Ao que nós chegámos...
Nesta altura estarão os meus mais dedicados leitores a suspirar e a murmurar entre dentes – “...lá vai ele começar a dizer mal outra vez...”
Fico triste... muito triste, mas o que é que há de bom para dizer???
Um Rali denominado “de Portugal”, que antes fora TAP e com glórias de imortalização em Banda Desenhada pelo Michel Vaillant de Jean Graton...
Um Rali que antes fora apontado como exemplo e reconhecido como “o melhor do mundo”...
Um rali que antes de passar a TAP novamente viu o seu nome lado a lado com a nossa bebida mais internacional “ o Vinho do Porto”...
Um Rali que até há pouco tempo era impensável não congregar a presença de todos os pilotos e marcas interessadas na disputa do Campeonato Mundial de Ralis...
Um Rali que era nosso por direito próprio, feito com o suor de quem sempre lutou por ele e de quem como nós participou sempre desde há 20 anos.
E depois de tudo o que já se falou, escreveu e criticou sobre a ausência desta prova do Campeonato do Mundo, terá alguém já equacionado
- Com que direito algum organização pode manipular a execução de uma prova que é de certeza mais minha, do Manuel Rolo, e de poucos mais, que em conjunto têm mais participações e quilómetros no Rali de Portugal, que algumas estrelas recém nascidas para o automobilismo têm de provas em toda a sua vida desportiva?
- Com que direito se mancha um nome e uma tradição com esgares de presunção e neo- organicismos, pressupondo sermos os maiores em tudo (novo capítulo dos intocáveis)?
- Com que direito e autoridade se organiza “Pseudo Ralis” a Sul, que no fim já não podem ser, e depois já podem ser outra vez, mas agora a Norte, bem a Norte?
- Com que direito se organiza uma prova do Nacional e se cobra taxas de inscrição 50% mais caras que em qualquer outra prova do mesmo Campeonato e com limites de inscrição surrealistas (O dia limite para as inscrições é no dia 15 e custa X Euros – Do dia 10 ao dia 15 pagará + 20%) – será isto consagrado no Código Penal como o vulgar denominado “Conto do Vigário”?
E depois destes direitos ursupados ou declinados de quem não os tinha e portanto não os podia ceder, temos a lista dos deveres.
- O dever de fazer respeitar o nome de uma organização descendente do maior clube português, dispensando a esta prova alguns cuidados organizativos que não passassem pela responsabilidade do endosso a uma Câmara Municipal que recentemente mudou de cor e que anseia por protagonismo, numa região do país para quem os eventos desportivos de dimensão Internacional não abundam.
- O dever, de como habitualmente, junto com a verificação documental serem entregues as habituais placas de participação que curiosamente este ano, ninguém sabia da sua existência, e só chegaram a Macedo de Cavaleiros a meio da tarde de Sábado – placas que curiosamente nem o ano da disputa do Rali menciona (devem ter sido feitas muitas a contar com os anos que aí vêm).
- O dever de não mudar os dias possíveis para treinar, que eram Sábado e Domingo ou Segunda e Terça, e que por artes de mágica passaram para Terça e Quarta, sem a preocupação do transtorno que isso poderia causar a todos os “Auriois” portugueses que por acaso até têm que trabalhar para viver.
- O dever de atempadamente proporcionar a todos os participantes – 44 – a razoável certeza uma organização desorganizada e incompetente, e para a qual já não vão chegando as boas vontades de alguns, que bem arrependidos estão de não terem sido deixados quietinhos no seu cantinho, e terem sido desviados para esta nova aventura de “Indiana Chaves em Busca do Prestígio Perdido”.
- O dever de pelo menos ter alguém que pudesse prever, que troços abertos recentemente, com terra solta e falta de compactação, poderiam ficar impróprios para serem disputados, caso chovesse, como veio a acontecer na tarde de Sexta e só não aconteceu Sábado porque o S. Pedro deve ter sido também desafiado para esta aventura...a sorte protege sempre os audazes, ou então quem consegue sempre mexer os cordelinhos (pena que sejam sempre os mesmos).
- O dever de com tantos cordelinhos e tantos conhecimentos, e ainda a superior experiência do Pedro Matos Chaves, nestas andanças de Director de Prova, conseguirem pôr na estrada um Rali que mais não passou de uma prova do regional com oito especiais de onde só se disputaram seis, superiormente pago em termos de inscrição e de ausência ao trabalho por meia dúzia de carolas que continuam a pensar que isto ainda pode ser diferente.
- O dever de pelo menos ter a dignidade de entregar os troféus previstos em regulamento, e que por falha não sei de quem só existiam metade, sendo o resto enviado à “posteriori” por Correio (será Azul?).
- O dever de não chamarem a esta reunião de VIP´s e “Bem Cheirosos” o RALI DE PORTUGAL.
Pronto já disse mal de tudo....
Agora vou dizer bem...
A paisagem, a comida, a simpatia dos Transmontanos e a sua simplicidade, a descoberta de uma terra à procura da sua identidade...parabéns Macedo de Cavaleiros.
Desportivamente, esta reunião automobilística, tinha alguns motivos de interesse, que se centravam na presença de Didier Auriol ao volante de um bem preparado Toyota Corolla WRC da STEP 2, do Andrea Aghini a bordo de um Subaru Imprenza WRC com as evoluções de 2000 preparado pela Procar e o regresso do Campeão Nacional em título Adruzilo Lopes, também a bordo de um Subaru Imprenza WRC da Procar, este com evoluções de 1999,
A nível Nacional os principais interessados no Campeonato estavam à partida, casos de Rui Madeira e Miguel Campos e também a equipa da Citroen com o Saxo Kit Car entregue a Armindo Araújo e a Fiat Portuguesa com os Puntos Kit Car de Vítor Lopes e José Pedro Fontes.
Na produção Horácio Franco liderava uma armada de Mitsubishi Lancer do Agrupamento de Produção, de onde sobressaíam também o António Gravato, o Manuel Rolo, o Armando Parente e a presença Açoriana do Ricardo Moura.
A restante lista de participantes era composta pelos Fiat Punto do Troféu e meia dúzia de atrasados mentais que ainda teimam em participar...
A Calisto Corse Equipe voltou, depois de indecentemente escorraçada e eliminada do rali no ano anterior, a estar presente nesta prova organizada pelo ACP Sport. (ou somos teimosos ou não temos vergonha).
E, na primeira especial, percebeu-se imediatamente que estava encontrado o vencedor do Rali, caso não se passasse nada de anormal, tal a diferença que Auriol conquistou para o segundo classificado – 55 segundos.
A nível Nacional Rui Madeira começou por andar na frente ganhando 11s a Miguel Campos, e Armindo Araújo colocou-se na frente da Fórmula 3 deixando o primeiro Fiat de José Pedro Fontes a 2 segundos.
Na Produção Pedro Cunha e Carmo, um outsider do Campeonato, tomou a liderança deixando Horácio Franco em carro idêntico a 21 segundos,
No troféu Punto José Sampaio começou a liderar e na classe 5 o Suzuki Ignis de Rui Almeida não falou com ninguém desde a primeira especial.
Na Calisto Corse Equipe, apresentámo-nos fortemente debilitados por doença à partida para esta prova, não querendo num assomo de sacrifício deixar de participar, respeitando todos aqueles que ao longo do tempo tem acreditado no nosso projecto.
No dia seguinte, três especiais disputadas por duas vezes faziam a totalidade deste rali, que começou logo bem com segunda anulação de troços cronometrados (a primeira fora no dia anterior por ter chovido e os pisos estarem de tal maneira impraticáveis que os Jipes da GNR ficaram atolados), desta vez pelo capotanço de Pedro Cunha e Carmo que interrompeu a estreita classificativa não permitindo que mais ninguém passasse.
E lá para o fim do dia (quero dizer 17 horas) Auriol ganhava o Rali, Aghini ficava em segundo a 2’ 34’’ e Miguel Campos cotava-se como o melhor piloto nacional em terceiro lugar da Geral e deixando Rui Madeira em quarto a 7’ 6’’.
Na Fórmula 3 Armindo Araújo ganhava deixando o único sobrevivente da armada Fiat, Vítor Lopes a 1’ 23’’.
No troféu Fiat Punto Mex obtinha uma vitória para o Team Pilotos RTP e na Produção Horácio Franco era o primeiro deixando Manuel Rolo em segundo a 57’’.
Na classe 5 Rui Almeida, depois de liderar toda a prova desistiu com a meta à vista, na última especial, mostrando que em termos de fiabilidade o Suzuki ainda não está preparado para aguentar o forte ritmo do piloto, entregando de bandeja a vitória na Classe 5 ao seu irmão Nuno Almeida a bordo de um indestrutível Nissan Micra
Terceiro na Classe 5 o piloto João Ramos (o Jornalista da Tarde) em Toyota Yaris, conseguiu colocar-se pela primeira vez este ano à nossa frente, com cerca de 2’ 28’’, beneficiando largamente da falta de ritmo desportivo que evidenciámos provocado por doença.
Mas, sem “desculpas de mau pagador” endereçamos as nossas melhores felicitações para esta simpática equipa, que longe de deixar o outro Yaris (o nosso) a uma distância apreciável, como mencionado no seu Press-Release, foram confrontados com uma luta bastante interessante e aguerrida que a meio do Rali apenas se cifrava em 28’’.
E, com um “Buffet” de alguma qualidade alimentar, mas servido num armazém de feira, junto com um grupo de rapazes vestidos de cores garridas que foram fazendo a festa dando um ar de folclore local, foi feito o encerramento de mais uma iniciativa desportiva Nacional, que a exemplo de muitas outras – “o que nasceu torto”...
Até aos Açores
Victor Calisto