Rali Sata Açores 2
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Rali Sata Açores 2

Em Terras de S. Miguel

Como sempre o Rali dos Açores encerra a época de terra do Campeonato Nacional de Ralis, e já lá vai o tempo em que esta prova podia ser considerada uma das melhores, em termos de piso, mas hoje em dia, pode ainda, sem dúvida, ser considerada uma das mais bonitas.
Pena é, que, algumas coisas tenham mudado, desde a nossa primeira participação em 1985 com um Fiat Uno Turbo, até aos dias de hoje.
Algumas coisas mudaram para melhor...
...mas houve muitas que só vieram dificultar a participação das equipas amadoras com budgets muito curtos...
...de desejados a preteridos, como o meu amigo Manuel Rolo terá escrito em relação à sua ausência nesta prova.
É bem verdade que houve tempos em que as principais equipas interessadas na disputa do Campeonato Nacional, ou aquelas que o disputavam de forma assídua e regular recebiam um telefonema do Grupo Desportivo Comercial solicitando a sua presença nesta prova insular, sabedores dos elevados custos que implica esta deslocação e oferecendo um leque apreciável de condições que permitissem à partida esta participação.
Estas condições passavam por transporte das viaturas de prova e de assistência, viagens aéreas, pelo menos para quatro elementos, e isenção do pagamento da taxa de inscrição, condições estas que longe de serem ideais, eram a ajuda indispensável para viabilizar qualquer tentativa de participação das tais equipas amadoras.
...não era o paraíso mas era uma ajuda muito importante, diria mesmo essencial.
Depois havia um mínimo de cinquenta inscritos que a lista de participantes devia exibir para poder almejar a que a prova pudesse ser considerada internacional e inscrita no Campeonato da Europa.
Hoje em dia, é tudo bem diferente...
...é muito mais importante haver dois ou três cabeças de cartaz, às vezes de cartazes que se vêem muito pouco, e que se fazem pagar a peso de ouro, absorvendo parte importante do budget que estas provas conseguem dos seus patrocinadores, do que, na minha opinião, aproveitar esses fundos destinando-os a melhorar as condições de participação das equipas nacionais que têm ao longo dos anos dignificado o desporto automóvel e as suas organizações, que sem as suas presenças não poderiam ter crescido e aumentado a sua capacidade organizativa, de molde a poderem sonhar com almejadas subidas de coeficiente nas provas europeias.
E, quanto a pretensão que o Grupo Desportivo Comercial tem de poder subir o Rali Sata Açores a Europeu de Coeficiente 20, que entendemos perfeitamente legítima, esta não deve sacrificar os interesses dos participantes nacionais, que tem feito as provas grandes, mais a mais sabendo que cada país só pode ter uma prova, nas dez que militam no Europeu de coeficiente 20, sendo necessário para que o Rali Sata Açores suba, que o Rali da Madeira, prova que já está inscrita no Europeu de coeficiente máximo, possa ser incluída no Mundial, ao qual se candidata este ano, abrindo assim a porta a esta prova, o que nos parece tarefa muito difícil.
Nada destas dificuldades tem a ver com a capacidade das organizações nacionais, que malgrado algumas "distracções" acontecidas nos últimos anos tem primado pelo rigor e pela seriedade, demonstrando internacionalmente a capacidade do "Made in Portugal".
Ainda quanto às deslocações insulares, e para todos aqueles que disputam o Campeonato Nacional de maneira assídua e regular, não deveria ser a entidade federativa a ditar leis, impor parâmetros e estabelecer regras para as condições a atribuir aos concorrentes, sendo iguais para todos, acabando com as diferenças e clientelismos que se fazem sentir hoje em dia, fazendo-nos pensar muito seriamente que uns são filhos da mãe e outros são filhos da...
Hoje em dia, meus senhores é impossível participar numa prova tão dura como o Rali Sata Açores sem uma viatura de assistência...
...onde levaríamos a meia dúzia de pneus e um jogo de amortecedores para mudar???
...então porque o apoio para o transporte do carro de prova e ignorar o transporte de um carro de apoio, enquanto que as equipas oficiais fazem transportar um sem número de viaturas, entre carros de prova, carros para exposições, carros de treinos, carros de assistência, carros de passeio, carros de promoção publicitária etc, etc, etc...não vos parece um pouco injusto???
Bem, e quanto à organização, nada a dizer, pois soube pôr, como habitualmente, na estrada um rali de alto nível e em que estiveram à altura de todos os problemas que foram aparecendo, nomeadamente aqueles que lhe foram colocados extra-rali, com uma oportunista manifestação de agricultores que a pretexto do aumento do preço do leite e da baixa dos combustíveis, bloquearam o parque de assistência no final da 1ª secção do 2º dia de prova.
Esta situação obrigou que se anulasse as segundas passagens pelas especiais FTM, Candelária e Sete Cidades, decisão que consideramos a mais acertada.
Uma palavra, também, para a célere decisão da direcção de prova, em fazer substituir parte da especial das Sete Cidades, que se mostrou, nos treinos, intransponível, principalmente para as viaturas de duas rodas motrizes.
Menos bem, na nossa opinião, o tempo fornecido para a ligação entre a última PEC, Tronqueira 2 e o final do rali, que mais não parecia que uma especial em asfalto disputada em estrada aberta ao trânsito, tal a dificuldade sentida, principalmente pelos carros de baixa cilindrada em cumprir o exigido sem penalizar...
...não havia necessidade...
Em termos das regras estabelecidas para reconhecer as provas especiais de classificação, não me parece errado que tenham sido escolhidos dias específicos para cada especial, permitindo reconhecer três PEC’s por dia e com igual número de passagens para cada piloto, congratulando-me pelo facto de se começar a colocar em pé de igualdade algumas das enormes diferenças entre as equipas de ponta e as mais amadoras, e também pela organização demonstrada no controle desta situação.
O que não me parece muito bem, é obrigarem, por serem 12 classificativas diferentes, a que os pilotos tivessem de reservar para os reconhecimentos 4 dias (a 3 especiais por dia), o que levou os concorrentes a iniciarem a estadia em S. Miguel na sexta-feira, para que no Sábado iniciassem as três primeiras PEC’s, visto que os dias permitidos para reconhecer eram sábado, domingo, segunda e terça.
Como nós estivemos ocupados profissionalmente até domingo às 24 horas, só pudemos reconhecer seis especiais, as de segunda e as de terça-feira, e não fora o anterior conhecimento de algumas PEC’s iríamos iniciar um rali sem ao menos saber o terreno que pisávamos.
Menos bem, também, no capítulo dos prémios, não se entendendo porquê, cada vez mais, as organizações desprezam os prémios de classe, atribuindo apenas recompensa ao primeiro classificado, como se a luta que se verifica nas classes fosse uma luta menor e não premiável, pelo menos em termos do habitual "pódio" (3 primeiros).
Desportivamente, nada melhor para uma prova do Campeonato Nacional de Ralis, do Campeonato Europeu Coeficiente 10 e candidata ao Coeficiente 20, que a recheada lista de inscritos que apresentava, num total de 61 equipas, realçando-se a presença do campeão europeu em título, Armin Kremer, a bordo de um bem preparado Ford Focus WRC da Ford Alemanha.
Além de praticamente todos os principais intervenientes do Campeonato Nacional a marcarem presença, algum destaque ia também para a presença dos convidados Sebastian Lindholm e Jani Paasonen a bordo de dois Subaru WRC preparados e assistidos pela Cilti e patrocinados pelos sponsors da prova Açoriana.
Rui Madeira a bordo do Ford Focus WRC, Miguel Campos no habitual Peugeot 206 WRC e o “outsider” Açoriano Gustavo Louro com um Mitsubishi do agrupamento de Turismo, constituíam a principal armada portuguesa capaz de discutir o triunfo com os estrangeiros presentes.
Na Fórmula 3, a Citroen e a Fiat estavam presentes na máxima força e no grupo N, depois de alguma polémica, que obrigou alguns dos habituais participantes a não fazerem a sua deslocação a esta prova, esperava-se vitória anunciada de Horácio Franco de entre apenas 10 participantes neste grupo.
Nos troféus Saxo e Fiat estavam presentes a maioria dos pilotos interessados na disputa desta competição mono marca, salpicados aqui e ali com algumas presenças de pilotos insulares guiando carros com as mesmas especificações.
Na classe 5 estavam inscritos 6 viaturas, de onde se destacavam dois Toyota Starlet insulares, dois Toyota Yaris continentais, um dos quais o da Calisto Corse Equipe, um Nissan Micra e um Peugeot 106 Rally.
Composto por 3 dias de prova, 22 especiais de classificação e uma quilometragem total aumentada para poder obedecer ao figurino de uma prova do Campeonato da Europa Coeficiente 20, este Sata Rally Açores 2002, afigurava-se como uma das provas mais duras que já fizéramos nesta ilha atlântica.
E o primeiro dia de prova com três especiais, de onde se incluía a super especial FM, disputada num bonito, mas destruído traçado, construído para o efeito numa pedreira entre Ponte Delgada e Ribeira Grande e que se estreou no Rali de 2001, começou às 16.30 para o primeiro na bonita marginal da capital, onde foi, como habitualmente, construído um pódio para o efeito.
Jani Paasonen começou por dar o mote, e no fim deste primeiro dia era o líder, mas apenas com 11 s de vantagem sobre um renascido Rui Madeira que queria desde já mostrar que tinham de contar com ele para discutir a vitória.
Miguel Campos estava a 1,2 s de Rui Madeira e tudo indicava que a luta ia ser extremamente interessante lá no topo.
Horácio Franco, como esperado, liderava a produção e Vítor Lopes no Fiat Punto da Fiat Portuguesa conseguia liderar a Fórmula 3 seguido de muito perto pelo Citroen Saxo de Armindo Araújo.
No troféu Saxo, Pedro Dias da Silva era o mais rápido, no Troféu Punto José Sampaio liderava e na classe 5 os dois Toyota Starlet insulares tomavam conta das operações deixando em terceiro o Yaris da Calisto Corse Equipe seguido de muito perto pelo outro Toyota de João Ramos que evidenciara um problema (já habitual) com o sector da caixa de velocidades na parte final da 3ª especial.
No 2º dia e após a passagem inicial pelas três primeiras especiais, e antes do bloqueio dos agricultores atrás referido, Jani Paasonen continuava a liderar, Miguel Campos ultrapassou Rui Madeira que agora se colocava em terceiro, deixando Armin Kremer em quinto.
Horácio Franco aumentava progressivamente a sua vantagem no agrupamento de Produção e na Fórmula 3 Armindo Araújo já levava cerca de 20 s sobre Vitor Lopes, o melhor homem da Fiat.
Nos troféus, tudo na mesma, e na classe 5 após as duas primeiras classificativas, Victor Calisto, mediante um esforço notável, liderava esta classificação, deixando em segundo o outro Yaris a cerca de 15 s...
...mas na terceira especial Sete Cidades 1, este piloto deitava tudo a perder, quando uma saída de estrada o levou a ficar parado mais de seis minutos até conseguir prosseguir em prova, o que o relegou para o quarto lugar desta classe.
Após o recomeço da prova disputaram-se mais quatro especiais, tendo sido anulada a segunda passagem pelas PEC´s iniciais, e no final do dia Rui Madeira chegava como líder da classificação, logo seguido por Miguel Campos, beneficiando de problemas de Paasonen que fora relegado para o oitavo lugar, e Armin Kremer era terceiro já a 51 s do piloto nacional da Ford.
Horácio Franco era cada vez mais primeiro, Armindo Araújo também liderava a Fórmula 3 e nos troféus, Pedro Dias da Silva continuava a liderar nos Saxos e, nos Fiat, Paulo Antunes assumia o comando.
Na classe 5 Victor Calisto recuperava algum tempo aos seus mais directos adversários mas continuava a manter o quarto lugar.
Finalmente no Sábado, disputava-se o dia mais duro do rali com a transferência do centro nevrálgico da prova para a zona do Nordeste e com a realização de uma dupla passagem pelas demolidoras especiais de Planalto dos Graminhais e Tronqueira, que pela sua extensão e dureza habitualmente ajudam a decidir o rali.
Mas este ano tal não aconteceu, porque Rui Madeira chegou a Ponta Delgada como vencedor incontestado desta prova e só Miguel Campos não conseguiu aguentar o “forcing” final do campeão europeu Armin Kremer, que secundou Madeira e deu uma apetecida “dobradinha” à Ford, relegando o campeão nacional em título para a terceira posição.
Gustavo Louro era quarto da geral e a primeira equipa Açoriana e Horácio Franco ganhava o agrupamento de Produção com larga vantagem (mais de 8 minutos) sobre Armando Parente.
Armindo Araújo oferecia o primeiro lugar da Fórmula 3 ao Fiat de José Pedro Fontes, desistindo na ligação após a última especial (bem merecia o prémio do azar), e nos troféus Pedro Dias da Silva ganhava entre os Saxos, enquanto José Sampaio recuperava a liderança e era o primeiro de entre os únicos três Fiat Punto HGT do troféu que lograram atingir o final.
Na classe 5, Victor Calisto começou a etapa ao ataque, tendo progressivamente ganho tempo aos seus adversários, e terminou a prova num excelente segundo lugar, só suplantado pelo o Yaris da Opção 04 guiado por João Ramos, que apesar de ter mais uma vez a sorte do seu lado, soube controlar o seu andamento e gerir a enorme vantagem de que dispunha após a saída de estrada de Victor Calisto, de molde a não se deixar surpreender.
Terminaram 32 dos 62 concorrentes, o que uma vez mais atesta a dureza desta prova.
Um toque de “show off” foi dado pela presença da vedeta da TV, Jorge Gabriel, anunciando a chegada dos carros ao pódio em Ponta Delgada, mas desta vez não “o preço certo em Euros” mas o preço de poder estar entre os maiores à chegada desta prova que constituiu a décima prova consecutiva e quinta prova do Campeonato Nacional de 2002 em que a Calisto Corse Equipe não conhece o abandono.
Uma palavra de agradecimento também para o concessionário Toyota Rui & Gastão, que nos forneceu todo o apoio indispensável durante a nossa estadia em S. Miguel.


Victor Calisto