A última vez que estive na Figueira da Foz por causa dos automóveis – será que já estive nalgum lado sem ser por causa dos automóveis??? – foi quando ainda havia Rali de Portugal a sério – lembram-se???.
É que às vezes esqueço-me que esta crónica também pode ser lida pelos mais novos e esses de certeza que não se lembram de Ralis a sério...
Ralis com verdade, com emoção e em que não era preciso ser um predestinado e um super protegido para ganhar ralis...bastava guiar bem, às vezes muito bem...
Mas a ultima vez que o roncar das máquinas tinha acordado esta cidade à beira do mar foi já no distante ano de 1997 (já lá vão 5 anos), quando o Rali de Portugal fez sede pela última vez no Centro do país, sendo depois a pouco e pouco empurrado tão para o Norte, que este ano já não tenho bem a certeza se é em Portugal ou Espanha, mas que é longe é...
Mas muito antes, em 1982 quando da nossa primeira participação neste Rali, ex-líbris do Clube Automóvel do Centro, a bordo de um Mazda 626, começamos por sentir as sensações do troço de abertura em asfalto, na estrada sinuosa que liga a Figueira da Foz a Quiaios pela Serra da Boa Viagem.
Depois, a ligação até ao Buçaco com as demolidoras especiais dessa zona, e ao fim do dia, o regresso à Figueira com o último troço do rali também feito em asfalto e no percurso inverso da especial da manhã.
Quantas vezes, se calhar nesse ano, mas seguramente nalguns que se seguiram o Rali foi decidido nessa última dezena de quilómetros....quem não se lembra das lutas entre o Escort Grupo 4 de Joaquim Santos e o Datsun 160 J de Santinho Mendes, navegado nessa altura por um bem menos “importante” Rui Cunha, que partiam para esta especial decidindo meia dúzia de segundos que os separavam na luta pela vitória do Rali.
As correrias (de má memória) das equipas de assistência para mudar os pneus de terra para asfalto, a descida alucinante do asfalto molhado da noite, entrecortado pela luz rotativa do Farol como aplaudindo sem cessar os resistentes no regresso a casa...
O encontro no desaparecido Tubarão, e o abraço da felicidade de ter participado e de ter dado o melhor de nós próprios...
Mas isso foi antes, porque desde há uns anos que este Rali fora despejado mesmo lá no meio de Portugal, em Oliveira do Hospital, onde embora bem organizado e competitivo perdeu todo o carisma da prova rainha do Centro de Portugal – não fosse ela originada no Rali da Rainha Santa – mas isso também já não são contas do nosso rosário.
Assim foi com alguma expectativa e emoção que vimos novamente o Rali regressar a casa, neste pressuposto regresso às origens que mais não foi que só de intenção.
Os tempos já são outros, o dinheiro não é muito e carros competitivos e ganhadores só para alguns.
E depois, numa candidatura a Europeu é preciso ter uma “Super especial” espectáculo que possa ser televisionada etc etc.
Então é preciso fazer o Rali a partir de sexta-feira, para começar o “Shake Down” (vulgo “parte o carro agora para já não teres logo”) bem cedinho com as verificações logo a seguir, e o carro a ter de entrar em Parque Fechado, que não era bem no sítio que era para ser, a uma hora que afinal não era para ser cumprida, para realizar uma primeira classificativa de “faz-de-conta”.
Então, os não profissionais, ou seja aqueles que têm de trabalhar, e para quem os automóveis são um “Hoby”, têm de faltar às suas obrigações profissionais num dispensável dia de sexta-feira só para fazer uma classificativa que afinal não conta para nada, nem sequer para o tempo aí realizado, senão vejamos:
Regulamentarmente, a todo o concorrente que fizesse nesta Super especial um tempo superior a 3 minutos era atribuído 3 minutos exactos.
Até aqui tudo bem, só que marcas inferiores a três minutos só foram conseguidas por três carros – O Peugeot 206 WRC, o Ford Focus WRC e O Mitsubishi Lancer EVO VII de Grupo N – todos os outros concorrentes foram cotados com 3 minutos, completassem ou não a especial...
Deixem-me APLAUDIR.
De que valeu o risco de efectuar e dar o melhor nesta classificativa.
E, ainda bem que ela foi feita na ordem inversa do número de porta, porque ainda assim fomos a segunda equipa a passar (já se passava mal) e ainda conseguimos jantar e dormir, porque O Miguel Campos disputou a especial quase à 1h e 30m – para sair na manhã seguinte às 7 horas.
Depois, e voltando aos números de porta, gostava de um dia poder privar com a mente iluminada que atribui os números de porta nas listas de inscritos, nomeadamente na Classe 5 que é aquela que me preocupa.
Assim vejamos as classificações dos principais interessados e participantes nesta classe:
1ª Prova |
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Rali Casino da Póvoa | 1º | Rui Almeida | Susuki Ignis | |
2º | Aires Farla | Ford Ka | ||
3º | Victor Calisto | Toyota Yaris | ||
João Ramos | Toyota Yaris | Não participou |
2ª Prova |
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Rali F. C. Porto | 1º | Aires Faria | Ford Ka | |
2º | Victor Calisto | Toyota Yaris | ||
3º | João Ramos | Toyota Yaris | ||
Rui Almeida | Susuki Ignis | Desistiu |
Perante as classificações obtidas nos dois anteriores ralis os números de porta do Rali Figueira da Foz para estes participantes da classe 5 foram:
52 | Rui Almeida | Susuki Ignis | (deve ser por ser o carro do importador) |
58 | Aires Faria | Ford Ka | (deve ser por ser Ford...) |
59 | João Ramos | Toyota Yaris | (deve ser pelo “Jornal da Tarde” ou será de Guaraná...) |
60 | Victor Calisto | Toyota Yaris | (deve ser, por ser o Victor Calisto... será....) |
Mas, de qualquer maneira, e chateie quem se chatear... Só eu sei... Porque não fico em casa...
Em termos de lista de inscritos também os simpáticos espanhóis da equipa “La Ruina Racing”, que deram com os seus três Peugeot 106 de Grupo N, o “Ar Internacional” ao Pré Europeu Rali da Figueira da Foz, e que toda a gente já conhece a sua inigualável rapidez obtiveram por parte da organização os números 54, 55 e 56... Porque será??? – só do nosso carro, os dois Peugeot espanhóis que acabaram ficaram, um a 18 minutos e o outro a 28 minutos...
Depois se não fossem os troféus as listas de inscritos do Campeonato Nacional de Ralis, resumiam-se ás marcas, Peugeot, Ford, Citroen e Fiat e a 6 Mitsubishi de Grupo N, além de como parece evidente dos mal tratados da parte de baixo da tabela – os bravos do pelotão.
Em 60 inscritos 35 eram participantes do Troféu Saxo ou Punto.
Desportivamente o que começou a correr pessimamente na sexta-feira à noite, foi menos mau durante o primaveril dia de Sábado.
Apesar do bom tempo, as classificativas não tinham muito pó pela chuva que se fez sentir nos dias anteriores, mas os pisos, historicamente demolidores da zona centro, fizeram a sua aparição, com zonas de muito mau piso e muita pedra solta, embora o cuidado da organização e das autarquias em proporcionar o melhor cuidado às estradas por onde passava o rali.
Mas, não é possível fazer mais em pisos do tipo da especial de Miranda do Corvo.
Mas todos tivemos de passar pelos mesmos sítios, sofrendo com isso sempre mais quem tem menos meios – mas é assim – não será que foi sempre???
A este Campeonato Nacional de Ralis bem podia ser dado o título do “Campeonato com o vencedor anunciado”, tal é a superioridade da Peugeot perante o WRC da Ford, seja com pneus Pirelli, Michellin ou outros
Ninguém põe em equação a capacidade de condução do Rui Madeira, mas esta é a verdade, primeiro a Peugeot, depois os outros.
O mesmo se passa na Fórmula 3 em que a supremacia do carro da Citroen tem até agora feito arrepender amargamente o Vítor Lopes por ter mudado de casa.
É que os Fiat, só se o Citroen desistir.
A superioridade do Peugeot foi tal que venceu todas as especiais, assim como Armindo Araújo e o Citroen Saxo que foi regularmente terceiro e ganhando sempre a Fórmula 3, só perdendo na última classificativa, manifestamente em sinal de descompressão e de gestão do seu avanço sobre os adversários da Fiat.
No troféu Saxo o mais rápido foi sempre Pedro Dias da Silva, que após ter vencido o Grupo N no ano passado se prepara para vencer o Troféu Saxo este ano.
No troféu Punto Paulo Antunes foi sempre primeiro, deixando uma luta acesa para o segundo posto entre Hugo Lopes e Mex Santos que acabou por se tornar favorável a este último a duas classificativas do fim do rali.
No agrupamento de Produção após a saída para a Peugeot do vencedor das duas primeiras provas, Bruno Magalhães, o caminho ficou aberto a Horácio Franco que ganhou sem dificuldade.
A estreia de Bruno Magalhães a bordo do Peugeot 206 Grupo A “pré troféu” da Sucursal Peugeot também foi auspiciosa, conseguido, este excelente piloto, um andamento muito rápido que o levou a um excelente 13º lugar final.
Na classe 5, Rui Almeida com uma viatura manifestamente superior à concorrência tomou a liderança na primeira classificativa, não a deixando mais até ao fim do rali, provando também a fiabilidade e resistência desta pequena “bomba japonesa”.
Aires Faria colocava o seu Ford Ka em segundo lugar da classe até desistir na segunda passagem pela dura e longa especial de Miranda do Corvo – Lousã.
Victor Calisto herdava assim o segundo posto da classe, que nunca correra perigo, pois João Ramos em carro igual, com ou sem problemas, nunca foi capaz, a exemplo do que acontecera no Rali F. C. Porto, de ser mais rápido que a veterana dupla da Calisto Corse Equipe.
Assim, Victor Calisto deixava João Ramos a quase sete minutos e Fernando Pais em Nissan Micra, um profundo conhecedor da região, a quase 15 minutos.
O próximo Rali, na sua versão número 47 – B, será o Rali de Portugal.... Será????
Até lá
Victor Calisto