Rally de Castelo Branco
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Rally de Castelo Branco

É difícil deixar de lado uma vida de emoções e de paixão como já o tentei fazer em 2007 quando na última prova do Campeonato Nacional de Ralis, o Rali Casinos do Algarve, anunciei , com alguma emoção, que ainda hoje sinto quando leio o que escrevi na ocasião, que iria definitivamente abandonar a competição automóvel.


Na ocasião estava perfeitamente convencido que era a situação mais sensata e inteligente que eu poderia tomar, não só, para bem da minha vida privada, mas também mentalmente e economicamente, pois a partir de uma certa altura, e depois de lutar contar tudo e contra todos durante anos a fio, começamos a ficar cansados e pensamos que este cansaço é suficiente para esquecer tudo e todos, fechar a porta e irmos dedicar-nos a colecionar selos ou borboletas ou outra atividade lúdica com menos empenhamento pessoal e financeiro.

Mas à medida que o tempo vai passando as lembranças do cansaço e das desilusões, das guerras e dos muros derrubados, vai-se esfumando e a saudade começa a bater, e começamos a olhar pelo canto do olho para a viatura parada e cheia de pó lá no canto da oficina.

E até já achava que ela ganhava vida ao estilo do "Herbie" e que de vez em quando, sem ninguém ver ela piscava-me o farol a título de desafio, e escorria uma gota do liquido limpa vidros, como se de uma lágrima se tratasse, ecoando na minha cabeça uma voz em surdina que se reprtia em tom de angústia e desespero.... 

"...Como é possível que ao fim de tantos anos me abandones aqui ao pó e a imobilidade.... 

...Como é possível que tenhas deixado secar toda a gasolina do meu depósito, tivesses deixado escoar-se todo o ar dos meus pneus e tivesses ignorado simplesmente uma vida em comum que partilhámos durante tantos anos, sem sequer de vez em quando fazeres roncar o meu motor e pelo menos irmos até Sintra, nem que fosse comer uma queijada!!!!"

Sempre fiz o possível para não ligar a estes devaneios e estas projeções fantasmagóricas da minha cabeça e tentei ignorá-las...mas....

....cada semana que passava o tormento era maior...

....eu já não ia ver automóveis, já não queria saber de quem corria e qual o resultado, e até quando me convidavam para ir assistir ao WRC Rally de Portugal eu conseguia arranjar as desculpas mais idiotas e estapafúrdias para não estar presente e não sofrer por não conseguir estar por dentro....

Esta alucinante guerra interior durou dois anos - 2008 e 2009 até que em 2010 voltei a ser internado com uma recaída grave e libertei do coma prolongado o velhinho Citroen Xsara proporcionando-lhe a participação em apenas duas provas de asfalto... As duas últimas do Campeonato...

Tivemos de o dotar de novos órgãos de segurança homologados, e até nós próprios, eu e o Joaquim Batalha tivemos que nos vestir a rigor porque a roupa velha já não servia e tivemos que comprar uma nova e bem cara.... ... E até tivemos que começar a usar umas coisas na região cervical e ombros a que chamaram sistema Hans e que ao principio foi um suplicio....

Bem, mas isso já la vai, e a partir dai foi "um ver se te avias"

Em 2010 fizemos duas provas, em 2011, mais três e a partir dai sempre em crescendo ate termos feito em 2014 o Campeonato praticamente todo com a exceção das ilhas e do Rali de Portugal.

Em 2013 a Inside Motor abraçou um projeto novo e arrojado coma vinda do novíssimo Peugeot 208 R2, a que nos dedicámos de alma e coração e que estreamos no Rali de Mortágua com o Bruno Magalhães que emprestou toda a sua qualidade de piloto, de homem e de amigo, para a divulgação de um carro novo e da sua competitividade.

Depois,  uma das grandes promessas do automobilismo nacional, o Diogo Gago, deu-nos o prazer de guiar para a Inside Motor e vencer categoricamente as duas rodas motrizes no Rali do Algarve de 2013

Entretanto, a minha cabeça, já andava mais por fora do que por dentro do meu velhinho Citroen Xsara...e o Joaquim Batalha teve de deixar de se sentar ao meu lado e martirizar-me o espírito, claro que no bom sentido, para se dedicar inteiramente à preparação e assistência do seu novo bebé...

E foi aí que entrou em cena o António Cirne, que voltou a sentar-se ao meu lado, no lugar que durante largos anos lhe pertenceu, para me ajudar a conquistar a minha primeira vitória no agrupamento de produção em conjunto com um quarto lugar da geral no rali do Algarve de 2013, e ser galardoado no final do ano pela FPAK  aos 58 anos de idade, com o título de vice campeão de Produção de 2014.

Depois, e porque não sei estar quieto e ainda não inventei um comprimido para deixar de gostar de automóveis, novas ideias foram crescendo e a concretização de um sonho antigo foi tomando forma...

...organizar uma competição monomarca de baixos custos e que pudesse, além de potenciar o desporto automóvel e as débeis listas de inscritos das provas nacionais, pudesse de alguma forma ajudar a entrada em competição de novos valores para o automobilismo nacional, por um patamar de iniciação, que tivesse qualidade competitiva e fosse bem sustentada, em termos de custos moderados e de uma excelente qualidade preço...

Surgiu, no final do ano o nascimento da ideia de uma Challenge realizada com os Citroen DS3 R1, primeiro patamar de entrada em competição, excelentemente elaborada pela Citroen Racing, que não descurando nenhum dos aspetos de segurança, conseguiu tornar um pequeno carro e um excelente chassis, numa pequena bomba quase de série,  capaz de fazer as delícias de quem o conduz, e proporcionar lutas interessantes e emocionantes, ao exemplo do que já tem acontecido nestes dois últimos anos em França, Bélgica e Suíça....

Mas em Novembro era demasiado tarde para iniciar um projeto, com segurança e viabilidade que se pudesse iniciar em Março de 2014....

E necessitávamos de preparar o ano desportivo com o nosso Peugeot 208 R2, entregue ao Gil Antunes, que depois do título do desafio Modelstand, e das duas rodas motrizes no Open, iria fazer a sua estreia na primeira divisão dos ralis em Portugal

Demos o melhor de nós mesmos na Inside Motor e pedimos ao Gil que também pudesse fazer o mesmo para o objetivo maior que seria a conquista  conjunta do Campeonato de RC4.

Quanto a nós, propusemo-nos realizar um sonho a um velho amigo, o João Santos, e desafiá-lo a sentar-se ao meu lado e fazer aquilo que sempre, em surdina, ambicionara fazer....participar em Ralis

Começamos em Fafe, pois já tínhamos saudades de fazer um rali em Terra, e depois prova a prova fomos fazendo os Ralis de Asfalto e acabamos por fazer todo o Campeonato, com melhor ou menor qualidade, mas sempre na "mesma forma diferente de estar por dentro" que sempre adotámos....

Mas a cabeça começava a estar sempre cá fora, nas prestações do Gil Antunes e na sua luta palmo a palmo pelo Campeonato de RC4 e na organização mental de toda uma ideia em crescendo da Challenge Citroen DS3 R1 ja pensada desde 2013.

E o primeiro passo foi dado...

...ja tínhamos nas nossas instalações um Citroen DS3 

Já tínhamos alguma coisa para mostrar às pessoas...

E depois de um completo e excecional processo de "lifting" um pobre Citroen DS3 do dia a dia, que nunca lhe passou pela cabeça andar nestas andanças, foi completamente transformado, pelo menos no seu visual externo no Citroen DS3 R1 versão 2013 da Citroen Racing.

Depois começamos a levá-lo para todo o lado, para que ele não se sentisse sozinho...

...já bastava ter-lhe modificado a sua aparência...

Levámo-lo para o Rali do Centro, para o Rali do Oeste, e quando estávamos a pensar transformá-lo num verdadeiro DS3 R1 recebemos a agradável notícia que um seu irmão imigrante em  França, vinha de visita a Portugal e queria mesmo participar num rali do nosso campeonato para ver como era...

Ficámos contentes e fomos a correr pedir ao nosso campeão Rui Madeira se estava disposto a entrar nesta aventura...

...Era um desafio, neste ano em que, o nosso primeiro campeão do mundo em automobilismo comemora 25 anos de carreira, de voltar aos tempos em que começou a dar os primeiros passos, e de igual modo num troféu monomarca....

Fantástico, o Rui com a sua simplicidade, simpatia e postura de grande campeão, abraçou sem hesitar este projeto, experimentou o irmão português como carro de segurança em Mortágua, para depois mais a sério, dar um recital de condução e superiormente levar junto com o Paulo Fiuza a viatura da Citroen Racing à vitória na classe RC5 e ao nono lugar da geral no Rali de Castelo Branco.

Estava aprovada a fiabilidade e competitividade deste pequeno modelo da Citroen, e a garantia de termos dado mais um passo importante para a realização desta Challenge em 2015.

E com todas estas peripécias como podemos ter a cabeça no sítio...???

Mas este último Rali do ano,  foi um rali aziago para a Inside Motor

Nós, no nosso Xsara, partimos o motor...e nada sobrou para contar...

O Gil Antunes que perdera a hipótese de se sagrar campeão em Mortágua, foi ver só o rali... e aproveitou para aplaudir a prestação do Daniel Nunes, que fazia a sua estreia no Campeonato Nacional de Ralis...

E que estreia...

Coitado...

Vários problemas que só "lembra ao diabo" condicionaram a sua prestação e reconhecida rapidez, que ainda deu para dar uma ar da sua graça e fazer tempos nos primeiros 5 da geral, e à frente das duas rodas motrizes quando o carro resolveu colaborar...

Pena que ás vezes a bruxa esteja atrás da porta....

Mas há mais marés que marinheiros...

E agora...temos a Taça de Portugal a meio de Novembro e a apresentação da nossa viatura da Challenge já em "trajo de luces" lá para o fim deste mês...

...Depois é esperar que este sonho possa ser tornado real através da adesão massiva de interessados, que pelo menos tem mostrado as suas intenções em quantidade agradavelmente surpreendente....

Por fim, uma palavra de regozijo, apoio e felicitações, pela excelente prova montada pela Escuderia de Castelo Branco, que soube contornar as dificuldades de ser a ultima prova do Campeonato, pondo na estrada, quanto a mim, uma das melhores provas, em todos os aspetos, em que tive a oportunidade de participar.

Simples, interessante, com gente bonita, descomplicada ou pronta para descomplicar. 

É pena que outras organizações não lhes sigam os passos, pensando de uma vez por todas, que são os pilotos  e a sua adesão que fazem as boas listas de inscritos, dão visibilidade e notoriedade às provas em que participam, chamando mais gente à estrada, retornando o investimento de uma forma mais correta pela informação e divulgação nos órgãos de comunicação social...

... no fundo voltando a levar o automobilismo de competição ao lugar que já foi dele por mérito e direito, na estrada e na parte desportiva, mas  também, no coração dos pilotos e dos adeptos e em suma todos os que ainda tem saudades dos bons velhos tempos.

Espero com muita fé que estas nossas ações possam servir para tornar o automobilismo mais acessível a todos,  e não cada vez mais um lobby de influências onde só alguns tem lugar.