Comparar... o incomparável.
Num confronto inédito, reunimos Victor Calisto e Manfred Stohl. Ambos ao volante de um Citroën Xsara, a diferença reside na designação que completa o carro: se o português corre com um 2.0 16V de Grupo N, o austríaco tripula um WCR que até já foi Campeão do Mundo pelas mãos de Loeb. Acrescente-se que o primeiro custou 50 mil euros e o segundo um pouco mais de… 700 mil!
A competição automóvel, já se sane, vive muito da paixão. Talvez por isso Victor Calisto ainda se mantenha, de pedra e cal, no Campeonato Nacional de Ralis, 31 anos depois de ter dado os primeiros passos neste desporto. Aliás o piloto de lisboa completa neste Ralide Portugal 25 presenças, mas, este ano, com o regresso da prova nacional ao calendário mundial, por pouco quase não alinhava (ler em separado)!
Aproveitando a presença de Manfred Stohl no regresso da prova portuguesa ao calendário mundial, o AutoSport desafiou-os a tentar encontrar elementos similares entre as duas estruturas, os dois carros, os dois pilotos… Enfim, qualquer coisa em comum! «É difícil tal acontecer», começa por reconhecer Victor Calisto. «Aposto que WCR de Stohl custou bem mais do que os 50 mil euros que gastei no meu Xsara para ficar completamente equipado».
Calisto tem razão. Cada Xsara WCR da OMV Kronos está orçado em 700 mil euros, num “budget” anual que ronda os seis milhões de euros para os dois carros, como revela Marc Van Dalen, Diretor Desportivo da Kronos Racing. «Conseguir reunir 40 milhões ou 40 mil euros custa praticamente o mesmo, tudo dependendo do retorno que se conseguir dar aos patrocinadores. No futebol passa-se o mesmo com as grandes equipas. Mas com 40 milhões de euros, acho que faria dez épocas de WCR…».
A loja dos 300
Não tendo seis milhões, Victor Calisto conseguiu comprar, por 50 mil euros, o seguinte material: um Citroën Xsara 2.0 16V, ‘rollbar’, ‘bacquets’, intercomunicadores, motor, caixa velocidades, autoblocante, suspensão, cintos, capacetes, terratrip, ‘stack’ e volante!» Para o Rali de Portugal, tenho que contar com mais dez mil euros: 2400 para inscrições, 200 para o aluguer do carro de treinos, 2500 para dez pneus, 1500 para peças de substituição, 750 para combustível, 1500 para os mecânicos e outros 1500 para alojamento e alimentação, para um ‘staff’ de seis pessoas, piloto e navegador incluídos», enumerou o piloto português.
Por seu lado, Manfred Stohl estima que cada carro, por rali, fica em 180 mil euros. «É difícil quantificar exatamente o custo de cada rali, porque temos parcerias que nos permitem abater vários gastos, como o aluguer dos carros dos treinos, alojamento, viagens e alimentação. Mas são sempre 180 mil euros por piloto e prova», admite.
Se Victor Calisto conta com quatro mecânicos, a OMV Kronos recorre a 26 pessoas na sua estrutura, entre diretor de equipa, engenheiros, mecânicos, pilotos e navegadores, assessor de imprensa e outro pessoal com funções específicas. «Temos já 12 anos de ligação ao desporto automóvel, fomos campeões da europa e do mundo, para além de ter ganho vários campeonatos nacionais. Temos responsabilidades que nos obrigam a estes números mais elevados», justifica Marc Van Dalen.
REPORTAGEM ESPECIAL AUTOSPORT - 31/03/2007