Crónica do Dr. Calisto
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Crónica do Dr. Calisto

"O HOMEM detrás DO PAULO"

A Crónica que faltava....

Não acredito que não haja ninguém que de uma forma ou outra tenha tido, ou ainda tenha as suas fantasias....

Alguns gostavam de ser marinheiros e depois chegaram à conclusão que enjoavam...

Outros gostavam de ser Enfermeiros....mas o problema era ver sangue....

Alguns, tal como eu, gostavam de ser pilotos de ralis.....mas......

Mas também às vezes faz bem, e é justo, conseguirmos tomar o lugar dos outros, colocarmo-nos na sua posição e enfrentar, nem que seja virtualmente, as suas dificuldades e os seus dramas, ou até partilhar as suas alegrias...

Desta vez, resolvi escrever uma crónica diferente...

Não.... não fiz nenhuma prova nem vou fazer o Dakar!!!

Esta crónica, não é sobre mim, não é sobre os outros pilotos, as organizações a Federação ou sobre qualquer outra coisa sobre as quais sempre escrevi

Esta crónica é ESPECIAL...

Primeiro porque me coloquei, ainda que por momentos, na pele de jornalista...

Depois, porque, e estou certo que o meu pensamento é unânime e universal, dar voz e saber um pouco mais, a quem soube, sempre, dar visibilidade e voz a todos nós, campeões ou não, mas que sempre tivemos lugar de igual para igual na informação desportiva dos ralis em Portugal, é mais que uma obrigação....

Esta crónica é o nosso contributo, embora muito pequeno, para a perseverança, atitude e coragem, divulgando "de borla" aquilo que os outros nem pagos o fizeram....

Desde o início do www.ralis.online.pt, os pilotos, as equipas, os fãs e os amantes deste desporto, ou mesmo só os curiosos, tem nesta página a referência do automobilismo de ralis, seja a nível nacional como internacional...

É a este homem, Paulo de seu nome, que lançámos o desafio de se mostrar mais um pouco a todos nós, respondendo algumas perguntas, porque muito mais haveria para fazer, para possamos prestar tributo a este trabalho extraordinário, vivido sempre na sombra e na timidez de quem não procura os louros, mas sim estar bem com o que faz e coma a sua paixão

"O HOMEM por detrás do PAULO" será pela certa um relato interessante de ler e que ajudará muita gente a perceber que vale sempre a pena....quando a alma não é pequena...

CCE - Porquê e quando nasceu esta paixão?

Paulo - Muito simples.
Nasci e vivi em Oliveira do Hospital os primeiros 20 anos da minha vida.
Durante muito anos, praticamente o único Hotel com condições que existia naquele região era o Hotel São Paulo, precisamente em Oliveira do Hospital.
Era também nesse Hotel (e mais tarde na Pousada de Santa Bárbara) que ficavam todas as equipas de ralis do Mundial que vinham testar para a região de Góis / Arganil, preparando o Rali de Portugal Vinho do Porto. Pois bem, a janela do meu quarto dava também para as traseiras do Hotel, onde durante anos e anos a fio, num período de 2 a 3 meses (que começava em Janeiro e terminava no Rali de Portugal), as equipas passavam as noites a trabalhar nos Audi 4, Peugeot 205, etc, depois de virem de um dia de testes.
Como não haveria de ter ficado com esta paixão, que me deixa agarrado à janela do meu quatro longas noites!!!

CCE - Porquê os Ralis e não a Velocidade ou o Todo-o-Terreno?

Paulo - Quem gosta verdadeiramente de desporto automóvel, em primeiro lugar gosta de ralis (na minha opinião, claro).
Os ralis reúnem tudo o que de bom existe no desporto automóvel, mas existe algum que na maioria das vezes nem a velocidade nem o todo-o-terreno têm, que é a "espetacularidade".
Só o facto de um rali utilizar estradas que qualquer carro pode percorrer, o torna diferente de todas as outras modalidades.
Porém, a melhor resposta encontra-se à beira de um troço a ver passar um carro de rali.
Aqui a emoção é muito superior aquela que podemos ter a ver um carro de competição a andar no autódromo ou TT num descampado do Alentejo.
Contudo, que fique bem claro que gosto de qualquer modalidade de desporto automóvel.

CCE - De que modo e com que expectativas pensaste um dia no ralis.online?

Paulo - Aos 15 anos, como tinha a paixão pelos ralis e o gosto pela comunicação social, sonhei que um dia gostaria de ser jornalista de desporto automóvel.
Cheguei depois dos 20 anos a trabalhar, durante três anos, no jornal Volante.
Entretanto iniciei outro projeto profissional no jornalismo, ligado sempre aos automóveis (ao qual ainda hoje me mantenho ligado), mas ficou o bichinho (expressão que não gosto nada de usar) por fazer algo mais no jornalismo associado aos ralis.
Até que apareceu a internet.
Ora como 1+1+1 é igual a 3, desenhei no papel um plano de atuação (até porque me tinha licenciado em Marketing) para desenvolver um projeto de ralis + comunicação social + internet.
Como achava que se estava a perder muita aquela questão da divulgação das provas (mapas, acessos, horários, inscritos, etc) achava que a internet era o meio perfeito para o fazer.
Depois foi só continuar a ir às provas, a todas as provas, e promover o site junto dos pilotos e dos organizadores, incentivando-os a divulgarem os seus ralis e o seus projetos... através do Ralis Online.
No dia em que deixar de ir às provas o Ralis Online acaba, pois não faz sentido fazer jornalismo de ralis sentado em casa.

CCE - Porquê nunca por dentro e sempre por fora e em todo o lado....e de máquina fotográfica em punho....?

Paulo - Nunca houve ninguém na minha família que me tivesse sentado num Kart ou numa moto quando eu tinha seis anos.
A única coisa que tinha era bicicleta e arriscava muito, ao ponto de quase todas as semanas soldar o quadro (que partia com os saltos) e frequentemente andava sem pneus nos aros... pois a minha mãe não financiava o gasto de borracha!!!
Como eu acho que para se ser grande piloto, tem que se começar muito cedo e tem que se ter algum jeito (para além de algum dinheiro), acabei por nunca ser verdadeiramente puxado a experimentar sentar-me ao volante de um carro de ralis, até porque só mesmo aos 18 anos é que tirei a carta e comecei a conduzir... nessa altura, como disse, eu acho que já era tarde!!!
Ora, como a paixão do jornalismo nasceu pelos 15 anos, acabei por juntar essa paixão aquela que já tinha pelos ralis.
Quanto à fotografia vem também por associação à minha profissão de jornalista, sendo também hoje uma paixão, embora não me considere fotógrafo.
Sempre tirei fotos a carros de rali e comecei a fazê-lo de forma mais intensa quando iniciei o Ralis Online, que era uma das componentes desse projeto, isto é, publicar sempre fotos de todos os carros que participam num rali.
Esta máxima ainda hoje é válida no Ralis Online.

CCE - Como tens tempo para montares e atualizares "au moment" um site tão completo e trabalhoso como este,
visto a tua vida profissional não depender disso mas do tua profissão....?

Paulo - Apesar de ser exteriormente desorganizado, sou para mim muito metódico.
É tudo uma questão de método e de organização.
Se existe uma notícia para dar... então toca a atualizar o site.
Isto é uma regra que tento cumprir ao máximo e que faz parte do tal plano que estruturei inicialmente para o Ralis Online.
Felizmente que toda a minha vida profissional (que tem prioridade absoluta) acaba por se encaixar também no trabalho que faço com o site.
Atualmente é mais fácil pois as pessoas já conhecem o Ralis Online e tecnologicamente existem meios que me facilitam a vida e me pouparam tempo, mas continuo a ter muito muito trabalho e a fazer muitos sacríficos, como também a ter algumas arrelias familiares.
São no fundo os "ossos do oficio".

CCE - Como consegues ir a todas, desde os Regionais ao Nacional, passando pelo Open e ainda teres tempo para as várias solicitações que te são feitas em eventos e organizações que habitualmente divulgas?

Paulo - Nem eu sei... é verdade que continuo a ter uma média superior a 90% de presenças nas provas dos Campeonatos de Ralis que se realizam em Portugal (CPR, Open, Sul e Centro foi 100% em 2012).
Como disse antes, o sucesso deste site é precisamente esse, isto é, estar presente nos ralis.
Também já afirmei que a minha vida profissional se encaixa com estas coisas dos ralis.
Por vezes aproveito algumas deslocações profissionais e já não regresso a casa, acabando por ficar para o rali... e tirando dias à família.
É importante dizer que os ralis são também um escape à minha vida profissional e familiar.
É lá que encontro amigos com quem gosto de estar e de partilhar esse gosto que temos pelos ralis.
No fundo, o que me faz ir a todas, é continuar a acreditar que isso é uma mais valia face à concorrência.
Estar lá é sempre melhor do que não estar!!!

CCE - Nunca pensaste em ser compensado pelos teus gastos sendo patrocinado, se calhar um pouco por todos os pilotos que tem tido em ti uma ajuda preciosa para dar visibilidade aos seus patrocinadores?

Paulo - Sinceramente não penso nisso.
Penso que se o site fosse profissionalizado poderia perder metade da piada.
O Ralis Online é algo que faço por gosto e que quero manter assim.
O pouco que gera em termos de receitas dá para os gastos e para manter o vício do ralis.

CCE - Achas que o teu site, por ser único ajudou a acabar com os lobbys de imprensa (principalmente a escrita) que desajustadamente sempre foi informando aquilo que bem queriam, olhando sempre para o seu próprio umbigo?

Paulo - Sinceramente acho.
Esse era também um dos principais objetivos do Ralis Online, que ainda não foi totalmente conseguido.
O principal para mim é que sinto que nunca fui injusto para ninguém (mesmo que alguns pensem o contrário) e sempre dei mais do que aquilo que alguém deu ao Ralis Online.
Pelas minhas tomadas de posição e por ter ido contra interesses instalados, algumas marcas de automóveis foram brutalmente injustas para com o Ralis Online.
Curiosamente, as marcas (e muitas pessoas que com elas colaboravam) foram todas embora e o Ralis Online aqui continua o seu caminho.

CCE - Sabendo que és o único e que o teu trabalho tem sido largamente reconhecido, até pela Federação, como te sentes nesse papel.... Com força para continuar ou com vontade de não lutares mais contra a parede de betão?.... Orgulhosamente só ou as árvores morrem de pé?

Paulo - Atualmente existe muita concorrência na internet.
E isso é bom, pois permite às pessoas avaliar e distinguir o trigo do joio.
O objetivo do site nunca foi lutar contra ninguém, mas foi, isso sim, "Promover os Ralis em Portugal", que é aliás o slogan do site desde a primeira hora.
As opiniões que dou têm apenas como objetivo melhorar este desporto.
Sei que nem todos pensam como eu e ainda bem que assim é.
Agora custa-me muito ver os clubes (muitos deles) a dizerem mal da Federação, mas depois vão lá na mesma colocar o seu voto, mantendo os mesmos no poder em troca de "mordomias".
É este absurdo que me custa imenso.
A minha vontade é continuar... mas também já pensei muito dar mais tempo à família.

CCE - Até quando podem os parentes pobres do pelotão contar com um Paulo presente e motivado, crítico e mordaz, sensível e moderado, tratando todos por igual desde o vencedor ao último classificado?

Paulo - Para mim todos os pilotos, clubes, equipas, etc, são importantes para os ralis.
Por isso, todos devem ter destaque no Ralis Online.
Isso sempre foi assim e sempre será enquanto existir Ralis Online.
A minha vontade é continuar por muitos mais anos, mas gostava de ver outros responsáveis federativos a gerir os destinos do desporto automóvel e dos ralis em particular, pois com estes não vamos a nenhum lado... como já se viu.
Uma das coisas que me dá motivação para continuar é precisamente o de continuar a lutar contra a atual política federativa.
Pelo menos mais uma época devo fazer e daqui a um ano logo se vê.

CCE - E uma associação de pilotos, aglutinada pelo teu site, com voz firme e consistente, acabando com as divisões e os silêncios, de quem no fundo proporciona o espetáculo, e que nunca faz ouvir a sua voz?

Paulo - O problema é que muitos pilotos não querem saber disso para nada.
Muitos pagam para correr e não querem saber nada das regras.
Outros que correm com patrocinadores não querem boicotar provas ou estar visíveis porque isso prejudica a imagem dos patrocinadores.
Enfim, neste contexto atual, os pilotos já deviam ter tomado medidas para que as regras se alterem.
São eles que andam nos troços e não têm palavra ativa?
O Ralis Online é um órgão de comunicação social ligado aos ralis.
Por isso, tem que dar voz a todos.
Entendo que estando muitas vezes do lado das opiniões dos pilotos, deve o Ralis Online dar-lhes a possibilidade de falarem e fazerem passar as suas opiniões, mas nunca ser o site o impulsionador de associações nem de pilotos, nem de clubes.
Tenho incentivado muito os pilotos e os clubes a falarem e a publicarem no Ralis Online as suas opiniões, mas muitos deles fogem disso como o "diabo da cruz".

CCE - Quem é no fundo este homem, Paulo de seu nome que um dia deitou mão á obra e soube construir uma esperança?

Paulo - Acima de tudo sou apenas mais um apaixonado por ralis, pela comunicação social e pela fotos.
Com a internet e com as redes sociais, começa-se a descobrir gente que tem muito mais pancada pelos ralis do eu.
Pelo que a minha mulher me dizia, cheguei a pensar que estava em estado terminal nesta doença que se chama ralis.
Felizmente descobri que existe gente bem pior do que eu.
Não vou aqui assumir falsas modéstias, nem dizer que sou um simples e humilde jornalista.
Sou alguém que acredita muito que pode ajudar a promover os ralis e que pode ajudar, com as suas opiniões, a mudar um pouco o rumo do que são hoje os ralis em Portugal.

E com esta palavras sinceras, às quais não podemos ficar indiferentes, O Paulo Homem abriu a sua vida e o seu coração, com este relato impressionante de sinceridade e querer, que não pode deixar de criar um sentimento de agradecimento e respeito por todos aqueles que yens ajudado a crescer nos ralis em Portugal....

Obrigado e que estejas em todas por muitos anos

Bom Natal e até para o ano.....

Calisto Corse Equipe
Victor Calisto

 

PS: Foi com muito gosto, e muita supresa, que aceitei o desafio lançado pelo Vitor Calisto. A ele e a todos os que se revejam nesta "Crónica Especial" um forte abraço e Boas Festas. Paulo Homem