Rali de Mortágua
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Rali de Mortágua

Há tanto tempo que não sentíamos o “nervosismo miudinho” que nunca nos abandonou antes das provas...

Há tanto tempo que não sentíamos o cheiro da gasolina queimada e o roncar dos motores.

Há tanto tempo que não víamos aquele grupo de amigos, que faça chuva ou sol, lá estão cortejando e adulando o seu amor...

Há tanto tempo que não nos confrontávamos com a realidade do nosso país ter um Campeonato de Portugal de Ralis com provas com tantos inscritos nacionais como espanhóis...

Há tanto tempo que não nos sentíamos defraudados por essa realidade e por sentir que o desporto a quem devotámos uma vida, continua a ser mal tratado por quem de direito e por quem, pelo lugar que ocupa, devia pensar mais e maior e não criar medidas que antes da austeridade, por si só, já são limitativas...

Falava-se, uma semana antes, no decorrer do reconhecimento do percurso, e naquelas paragens bem apetecidas no início de uma qualquer especial, e entre saudações e abraços de regozijo por não termos resistido “ad eternum” ao afastamento destas lides...

Falava-se em tudo e em nada.... 

...de como é possível haver só estes inscritos...o que fazer...porquê é que não se faz isto ou não se faz aquilo...e o que faz falta é promoção e divulgação...não, o que faz falta é um patrocinador para o campeonato...ou um campeonato para os patrocinadores...ou outra Federação...ou outra gente na Federação...ou outros pilotos...ou uma verdadeira associação de pilotos ou...ou...ou...

E sabem, amigos, aquilo que eu acho é que não há volta a dar-lhe, porque com os custos de participação que encerra uma prova do nacional só os bafejados por um enorme e inesgotável pecúlio pessoal ou por um conjunto de patrocinadores verdadeiramente apostados em proporcionar participações de qualidade, é que se podem fazer face às despesas que englobam essas participações...

Se não vejamos:

No nosso caso tínhamos uma viatura parada desde 2007, que tinha sido montada em 2004...os acessórios de segurança do carro tal como bancos, cintos, capacetes, fatos de competição e toda a roupa ignifugo, perdeu a homologação em 2008 pelo que, para reiniciar a competição foi necessário adquirir tudo de novo.... 

...porque será que os bancos, cintos, capacetes e fatos de competição, numa viatura que nunca bateu deixaram de ser eficazes e proteger com segurança o piloto e o navegador?

Só porque a etiqueta do fabricante determina um prazo de validade....os bancos, os cintos e tudo o resto é igual ao que já tínhamos...só a etiqueta é que mudou...

Fantástico… e quem ganhou?...O fabricante. Quem perdeu?....o piloto e a sua equipa...

E o sistema Hans...delicioso...nunca me senti tão confortável a guiar um automóvel de corrida...parecia mais um teste de verdadeira tortura medieval que me fez pensar se a segurança era assim tão prejudicada se os nossos movimentos pudessem estar mantidos...

Para já não falar do preço exorbitante de cada “canga” que nos obriga a sentirmo-nos ainda mais burros...

No início de cada classificativa, entre colocar a balaclava, o sistema Hans, o capacete e acoplar o sistema a este, apertar os cintos colocar as luvas e sei lá mais o quê...

...ou começam a dar mais tempo para iniciarmos a especial ou corremos o risco de quando acabarmos de nos “vestir” já a classificativa acabou...

Para obviar a esta situação propomos, que quando nos formos deitar, na véspera, já levarmos tudo posto e só tirarmos quando acabar o rali, na entrega de prémios...em nome da segurança.

Depois os custos de participação complementam-se, tomando como certo que a viatura já existe, pelas licenças desportivas, cujo valor é igual para fazer todo o Campeonato ou para fazer apenas uma prova...

...e pelo valor exorbitante de uma licença moral, que afasta qualquer patrocinador da ideia de poder associar o seu nome à inscrição da equipa

que patrocina, porque esse valor é quase a verba que ele teria destinado para o patrocínio...

...e então ou dispomos desse apoio ou temos licença moral com o nome do patrocinador...

Fantástico...isto é que é puxar novos patrocinadores para o Desporto Automóvel.

E agora seguimos para as inscrições que apesar de conhecermos por dentro a realidade das organizações, não é admissível que sejam só os pilotos a suportar as verbas incríveis que se pedem por uma inscrição de uma prova do Campeonato de Portugal de Ralis...1000 Euros...

...e eram cerca de 28 participantes, dos quais 11 espanhóis...

...e se não viessem os espanhóis?...a inscrição subiria para o dobro... ou como é que a organização fazia face aos seus custos, policiamento...etc....porquê serem os intervenientes na festa a terem de pagar a factura...é o mesmo que dar o espectáculo e depois descer do palco até à plateia para aplaudir....e antes já tínhamos estado na porta a cobrar os bilhetes...

Depois todas as outras despesas...alimentação, alojamento, combustíveis, portagens, honorários dos técnicos deslocados...além dos pneus e material suplente de desgaste que a prova consome...

E, depois, se tudo correr bem, a revisão na oficina substituindo tudo o que se deteriorou na prova...

Já começaram a fazer contas?....não vale a pena...essas contas já as fiz dezenas de vezes para a frente e para trás e o resultado é sempre o mesmo....

Os custos de participação são largamente superiores ao que a maioria dos pilotos consegue disponibilizar...um rali de fim-de-semana não se faz por menos de 5000 Euros...se tudo correr bem...

E porquê começar uma prova com uma prova teste “pirata” na 6ª feira de manhã, continuar com meio-dia de Sábado e outro meio-dia de Domingo...

Que sorte os pilotos “amadores” do Campeonato Nacional de Ralis não trabalharem, porque se o fizessem não poderiam estar presentes...

...ou esta divisão da prova por três dias é para obrigar o pessoal a pernoitar e a comer na zona e assim rentabilizar o Turismo da Região e oapoio da Câmara Municipal?...

...Bem arrumadinho, não se fazia tudo num dia ou no máximo num dia e meio?

Bem mas deixando as mágoas, que pelos visto nada mudou neste tempo em que fomos visitar a Alice ao País das Maravilhas, podemos reafirmar com toda a certeza que o S. Pedro, com quem mantive acesa discórdia

nos bons velhos tempos, também já não está para se ralar e deixou-nos regressar secos e enxutos...

Não que não tivéssemos pneus para chuva...mas as galochas?

Depois foi a agradável surpresa de perceber que deixámos muitos amigos ao longo destes longos anos, que resolveram manifestar a sua emoção por nos verem regressar...

...uns na forma de um abraço sentido...outros comentando as notícias que davam conta do nosso regresso...

…e alguns desses comentários...deixem-me que vos diga...

...a sua emoção e a nossa, pois algumas das coisas que ouvimos mexeram muito cá por dentro e ainda reforçaram mais a certeza de que nós, no desporto automóvel e particularmente nos ralis, somos uma família muito especial.

No aspecto desportivo, não podemos deixar de lamentar a falta de participantes e de lamentar mais ainda que o nosso velhinho Citroen Xsara, apesar das melhorias aplicadas, não possa ser tão competitivo

como a maioria dos carros do pelotão...e como nós gostaríamos…

...mas é o que temos...

...e talvez por isso, ou por vergonha, resolveu não estar pelos ajustes e deixar-nos apeados no final da 3ª classificativa onde resolveu deixar de colaborar...

...é assim...quando se retoma a actividade... tem de ser devagarinho e com contenção...nós entendemos...são as artroses!!!

Mas, no final, o saldo só pode ser positivo por o reencontro fantástico com este mundo de que HÁ TANTO TEMPO estávamos arredados.

Até já !!!